O advogado e ex-policial federal Gedimar Pereira Passos, preso sexta-feira em São Paulo, afirmou à PF que foi “contratado pela Executiva Nacional do PT” para negociar com a família Vedoin a compra de um dossiê contra os tucanos, e que do pacote fez parte entrevista acusando José Serra de envolvimento na máfia sanguessuga.

Em seu depoimento, ao qual a Folha teve acesso, Gedimar declarou ter entregue R$ 1 milhão do total que seria pago aos donos da Planam (cerca de R$ 1,7 milhão) a Valdebran Padilha da Silva, intermediário da família no negócio, “no momento em que foi iniciada a entrevista entre os Vedoin e a imprensa” em Cuiabá (MT).

Os Vedoin, de acordo com Gedimar, pediram inicialmente R$ 20 milhões por “informações graves” que envolveriam “não só políticos de outros partidos, mas também do próprio PT”, e referentes “não apenas ao caso sanguessuga”. O valor, entretanto, “estava fora do alcance do partido”.

A negociação teria prosseguido até baixar a R$ 2 milhões. Como mesmo essa quantia foi considerada elevada, o PT, segundo Gedimar, ofereceu “a uma importante revista de circulação nacional sociedade na compra das informações”.

Ele disse não saber se a revista seria “IstoÉ” -que na sexta-feira chegou às bancas com entrevista exclusiva em que Luiz Antonio Vedoin acusa Serra-, “Época” “ou mesmo um grande jornal de São Paulo”.

Gedimar contou à PF que “houve um acordo entre o PT e o órgão de imprensa” e que chegaram a reunir “pouco menos de R$ 2 milhões”.

Segundo o depoimento, “ficou acertado que uma equipe de jornalistas se deslocaria até Cuiabá para realizar entrevista exclusiva com os Vedoin”, que na ocasião apresentariam “um arsenal de documentos”.

Os papéis, diz Gedimar, foram mostrados aos jornalistas, mas ficaram com Vedoin, pois “só seriam entregues mediante pagamento”. As informações, no entanto, se revelaram decepcionantes. Resumiam-se “a fatos já de conhecimento da sociedade em geral, de pouca importância para o PT e para o órgão de imprensa”.

Interessado em receber o restante do dinheiro, Vedoin teria entregue aos jornalistas um CD-ROM que supostamente conteria as informações prometidas. Mas “os jornalistas, ao chegarem à sua base, verificaram que o CD nada continha”.

Gedimar disse acreditar que, nesse momento, houve uma “troca de informações” entre o PT e o órgão de imprensa “no sentido de de reverem a situação”, uma vez que R$ 1 milhão já havia sido entregue ao representante dos Vedoin.

O depoimento de Valdebran, também lido pela Folha, indica que a decepção dos “compradores”, aliada às manobras de Vedoin para satisfazê-los, foi a responsável pela permanência prolongada de Gedimar e Valdebran no hotel paulistano onde acabaram presos pela PF na madrugada de sexta-feira.

Valdebran, que já havia recebido R$ 1 milhão, ficou de apresentar na quinta-feira os documentos, mas estes não chegaram de Cuiabá. Gedimar o questionou “sobre o CD vazio”. Na quinta, “por volta das 23h”, Valdebran telefonou para Luiz Antonio Vedoin, pois “estava preocupado” por permanecer com todo o dinheiro no hotel.

Segundo Valdebran, a negociação dos Vedoin com o PT já havia começado quando ele entrou na história, como uma espécie de facilitador, dada sua “credibilidade” perante a família. Ele disse que não procurou, e sim foi procurado, por “pessoas ligadas ao PT”, as quais, à exceção de Gedimar, não são nomeadas no depoimento. Valdebran declarou ter vindo a São Paulo porque na cidade “estavam os recursos” para concluir o negócio.

Gedimar não identificou que integrantes da Executiva Nacional o teriam “contratado”. Sobre o pagamento propriamente dito, afirmou ter sido feito “a mando de uma pessoa de nome Froude ou Freud”, que teria “uma empresa de segurança” no Rio de Janeiro e/ ou em São Paulo.

Do total que seria entregue a Valdebran caso tudo tivesse dado certo, Gedimar disse ter recebido R$ 1 milhão na manhã de quinta, “por volta das 6h, no interior do estacionamento do hotel Ibis, de uma pessoa branca, com aproximadamente 45 anos, cabelos negros carapinha, que não declinou o nome e que estava no interior de um táxi”. A segunda parte, na noite do mesmo dia, “por volta das 23h30, de uma pessoa de nome André, de cor branca, com aproximadamente 45 anos”.

A leitura dos dois depoimentos à Polícia Federal desfaz a impressão inicial de que Gedimar e Valdebran -o primeiro simpatizante do PT e autodeclarado advogado do partido, o segundo filiado à sigla, ambos baseados em Cuiabá- formariam uma dupla, até porque foram presos juntos.

Na verdade, Gedimar era o pagador, e Valdebran, hospedado no quarto ao lado, o recebedor pelos Vedoin.

RENATA LO PRETE

Editora do “Painel” da Folha de S.Paulo