Operação das polícias do Brasil e do Paraguai apreende armas de quadrilhas brasileiras
Numa das maiores apreensões dos últimos anos, a polícia do Paraguai confiscou na tarde do último sábado um arsenal avaliado em US$1,2 milhão. Foram encontradas quase 600 armas, entre escopetas, metralhadoras, além de carregadores de fuzis e seis mil cartuchos de munições, que seriam usados pela quadrilha de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, um dos maiores traficantes brasileiros, preso na penitenciária federal de Catanduvas (PR).
As armas e munições estavam escondidas dentro de um poço em uma casa em Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia que faz fronteira com Ponta Porã (MS), onde, segundo a polícia paraguaia, Beira-Mar estaria tentando reorganizar sua quadrilha. Para evitar danos, os traficantes adotaram cuidados especiais: lubrificaram todas as armas, que foram em seguida embaladas em sacos de polietileno.
Piloto de Beira-Mar é um dos presos
Comandada pela Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) do Paraguai, a investigação do caso teve a participação da Polícia Federal brasileira. A apreensão das armas só foi possível depois da prisão, na sexta-feira, de dois acusados de integrar a quadrilha de Fernandinho Beira-Mar. José Vilanova Cavalcante, conhecido como Bito Cavalcante, que seria piloto da quadrilha, e Jonathan Gimenez estavam em um hotel em Pedro Juan Caballero.
Segundo Sixto Marin, agente da Senad, o arsenal encontrado no poço está em nome do brasileiro Alberto Dornelles Rodrigues, dono da loja Comando, localizada também em Pedro Juan Caballero. Rodrigues está detido desde 25 de agosto em Ponta Porã, sob suspeita de fornecer armas contrabandeadas tanto para a quadrilha de Fernandinho Beira-Mar como para a facção criminosa que comanda os atentados no Estado de São Paulo. O nome de Rodrigues consta na agenda do traficante brasileiro, apreendida em 2001, quando Beira-Mar foi preso na Colômbia.
A operação do fim de semana foi a primeira grande ofensiva da Senad desde a inauguração de sua sede em Pedro Juan Caballero, no último dia 22. A obra, que custou US$448 mil, foi financiada pelos Estados Unidos, e faz parte de um acordo dos governos dos dois países para o combate às organizações criminosas na região.
Colaboração com a PF brasileira
Também existe grande colaboração com a Polícia Federal do Brasil. A troca de informações entre policiais brasileiros e paraguaios foi reforçada pela ida de policiais federais de Mato Grosso do Sul, entre eles o superintendente Delci Teixeira, até o Paraguai. Teixeira já atuou na região de fronteira com o Paraguai e, quando foi para o Rio, levou junto oito policiais de sua confiança.
Há cerca de quatro meses, a Senad, com o apoio da Polícia Federal do Rio de Janeiro, vem trabalhando para desarticular as organizações criminosas que atuam na fronteira com o Brasil. No mês passado, os policiais paraguaios fizeram várias operações e em uma delas foi apreendida grande quantidade de armas que pertenceria a Marcelo da Silva Leandro, o Marcelinho Niterói, braço direito de Beira-Mar no Paraguai. Ele foi preso no Paraguai e expulso para o Brasil, mas foi libertado pela Polícia Federal de Ponta Porã, já que no Brasil não há mandado de prisão contra ele.
No dia 11 de agosto, em outra operação, a Senad apreendeu em Pedro Juan Caballero mais de 230 armas e 120 carregadores para metralhadoras. O material estava numa camionete com placas de São Paulo.
PF prende advogado de facção
A Polícia Federal prendeu ontem um advogado acusado de integrar a facção criminosa que realizou ataques em São Paulo e assaltou o Banco Central de Fortaleza em agosto de 2005. Edson Campos Luziano, que tem escritório em São Bernardo, no ABC paulista, foi preso em sua casa, na mesma cidade. A polícia não revelou o tipo de envolvimento ou qual crime teria sido cometido pelo advogado, cujo notebook foi apreendido. A PF também divulgou o nome de mais dois presos no fim de semana, Marcelo Dias Oliveira e José Lúcio Costa, aumentando para 44 o número de prisões desde a semana passada, na Operação Facção Toupeira.
Ontem à noite, a PF esperava prender outro suposto integrante da facção. Segundo os agentes, ele seria ligado ao chefe da organização. No início da noite, a PF localizou ainda US$ 91 mil em uma casa em Ribeirão Pires, também no ABC Paulista.
Em São Paulo trabalham 150 agentes para cumprir os mandados de prisão expedidos pela Justiça de Fortaleza. A Justiça vai decidir quais são os presos mais perigosos para que sejam transferidos para o presídio federal de segurança máxima, em Catanduvas, no oeste do Paraná. Até agora, a Superintendência da PF paulista cumpriu 12 mandados de prisão. Também foram seqüestrados três imóveis: uma chácara em São Bernardo, uma casa em São Paulo e outra em Peruíbe, onde a polícia encontrou R$470 mil do dinheiro roubado em Fortaleza.
Segundo fontes policiais, há mais 12 pessoas a serem presas. A operação da PF envolveu dez estados, entre eles Tocantins, onde os policiais recuperaram R$646 mil dos R$164,8 milhões roubados do Banco Central.
O pai do advogado preso, Honorato Luziano, disse que o filho é inocente:
– Meu filho diz que não tem nada contra ele. Fiquei sabendo pela televisão e não fizemos contato. A gente sabe que quem não deve nada não precisa ficar com medo. Advogado defende muita gente. É a função dele.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seção São Paulo, não se manifestou sobre a prisão. Em seus registros na Ordem, Luziano sequer divulga seus telefones de contato ou o endereço de trabalho. Segundo o site da OAB, os dados do advogado estão pendentes de atualização.
O Globo
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