Gravações telefônicas mostram Lilico, lobista e irmão de Luiz Fleury, negociando contratos com o IRB e a BR Distribuidora

“Vamos juntar nossos “feelings”, o seu para o mercado e o meu para a sacanagem?”, diz ele em um diálogo a um outro lobista

Integrantes do mesmo grupo acusado pelo Ministério Público de fraudar licitações para a compra de medicamentos no Ministério da Saúde teriam tentado promover negócios ilegais em ao menos mais oito órgãos públicos, segundo investigação da Polícia Federal.

Na Operação Vampiro, a PF encontrou indícios de tráfico de influência na Petrobras, na BR Distribuidora, na Infraero, nos ministérios das Comunicações e da Previdência, no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), no IRB (Instituto de Resseguros do Brasil), no fundo de pensão Nucleos (Eletrobrás) e na Secretaria de Saúde do Distrito Federal.

São apontados como pivôs dos contatos os lobistas Frederico Coelho Neto -o Lilico, irmão do deputado Luiz Antônio Fleury (PTB-SP)-, Laerte Correa Júnior e Eduardo Pedrosa.

Em diálogos telefônicos gravados entre janeiro e março de 2004, os três revelaram ter acesso à agenda de executivos e técnicos instalados em órgãos públicos e estatais. Os contatos seriam o meio de fechar negócios com a iniciativa privada.

Lilico refuta as acusações de que cobraria comissão sobre negócios fraudulentos. Nega praticar tráfico de influência, mas confirma que agendou reuniões na BR Distribuidora.

Ele teria contatado um diretor para encampar um projeto de controle de consumo de combustível. O empresário queria vender a tecnologia de um chip, que instalado nas bombas de gasolina das distribuidoras, registra o quanto cada veículo consome.

IRB

Já no IRB, Lilico tinha o amigo Luiz Apolônio Neto, membro da diretoria. Saiu do cargo em junho de 2005, durante a investigação do mensalão.

Para o IRB, o produto a vender seria certificação digital de documentos. Segundo Lilico, o contato não foi feito, porque Apolônio não era da área responsável pelo possível negócio.

Lilico ingressou no suposto esquema apontado pela PF porque, em parceria com Pedrosa, queria vender ao Ministério da Saúde um projeto para entregar remédios para idosos em casa. Não conseguiu.

Segundo a PF, havia dois grupos de lobistas em ação no ministério. Um seria ligado ao então ministro Humberto Costa e comandado por Jaisler Jabour. O outro, associado ao ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, teria como chefe Correa Júnior.

Numa conversa de 26 de fevereiro com Correa, Lilico sugere: “Vamos juntar nossos “feelings”, o seu para o mercado e o meu da sacanagem?”.

Pedrosa também é um interlocutor ativo no grupo. Em 9 de fevereiro de 2004, diz a Eduardo Vaz Musa, então gerente de Engenharia da BR Distribuidora, que vai “conseguir uma parada nos próximos 15 dias aí”, “é muito grande”. Diz que Musa “vai se aposentar”. O diretor diz: “Fazemos qualquer negócio se for interesse da nação”.

Em outra conversa, em 24 de março, a dupla discute possíveis mudanças como o deslocamento do secretário-geral do PT, Silvio Pereira, que teria influência política sobre a estatal, para cuidar somente da eleição municipal. Pergunta Musa: “E agora, como é que vai ficar o equilíbrio de forças aí? Quem cuida das caixinhas, hein?”

Ex-ministro diz que Justiça pode quebrar sigilos O ex-ministro da Saúde e candidato do PT ao governo de Pernambuco, Humberto Costa, voltou a dizer ontem que é “inocente” e entregou autorização à Justiça Federal, em Brasília, para quebrar seus sigilos bancário, fiscal e telefônico.

Costa disse ainda estar sendo vítima de “armação política” contra sua candidatura e a do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Apontou também suposta falha da Polícia Federal nos indiciamentos do caso. O ex-ministro é um dos 42 indiciados pela PF acusado de envolvimento em esquema de fraudes em licitações para a compra de hemoderivados feitas pelo Ministério da Saúde.

ANDRÉA MICHAEL e LUCIANA CONSTANTINO

Folha de S. Paulo