Segundo conversas grampeadas, folha paralela de funcionários também incluía cabeleireiro; ele tinha salário de R$ 7 mil, mas ficava com R$ 1 mil
Diálogos telefônicos interceptados pela Polícia Federal com autorização da Justiça mostram que os integrantes da quadrilha de Rondônia desbaratada na sexta-feira pela Operação Dominó incluíram na folha salarial paralela da Assembléia Legislativa até um pai-de-santo e um cabeleireiro. No entanto, só parte do salário era repassada a esses prestadores de serviço – o restante era embolsado pela máfia.
Alguns dos que estão nessa situação são o umbandista Pai Nelson – incluído na folha por Márcia Scheffer, mulher do presidente da Assembléia, José Carlos de Oliveira (PSL), o Carlão – e o cabeleireiro Odail Pereira Lima, o Rambo.
Num dos diálogos, gravado em 31 de dezembro, Rambo, que trabalha no salão Black White Studio, conversa com Hingrid, mulher de Moisés, operador da quadrilha e irmão de Carlão. Ela anota dados de Rambo para pôr na folha de pagamento e os repassa à área de Recursos Humanos da Assembléia.
Carlão e Moisés estão entre os 23 presos durante a Operação Dominó, que apura desvio de verba pública e venda de sentença envolvendo os três Poderes de Rondônia. Na Assembléia, 23 dos 24 deputados estariam envolvidos no esquema.
Documentos apreendidos mostram que o salário registrado era de R$ 7 mil, mas Rambo recebia pouco mais de R$ 1 mil. E, assim mesmo, tinha de justificar o ganho atendendo a família no salão. “Faço em média dez atendimentos por mês”, disse.
O contracheque ficava com Hingrid, que o sacava ou o usava para pagar terceiros. Rambo alegou não saber da origem do dinheiro e desconhecer que a maior parte ficava com o grupo.
As investigações constataram que Márcia tinha o hábito de fazer despachos de macumba e outros “trabalhos” para proteger Carlão e a quadrilha. Alguns eram feitos na Assembléia, fora do expediente, no gabinete do parlamentar. Para pagar os serviços de Pai Nelson, ela colocou um neto dele, Geovane dos Santos, na folha da Assembléia, com salário de R$ 2,5 mil. Como Geovane mora em Brasília, a PF deduziu que o destinatário era o pai-de-santo.
Vannildo Mendes / O Estado de S. Paulo
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