A Varig deixou de operar ontem praticamente todos os vôos nacionais e internacionais partindo dos aeroportos Tom Jobim e Guarulhos. Com apenas seis aviões em operação, a empresa pediu à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que já havia determinado a volta dos vôos, para atender a apenas cinco destinos: a ponte aérea Rio-São Paulo, Congonhas(SP)-Porto Alegre e as rotas para Frankfurt, Miami e Nova York a partir de São Paulo. Mas o pedido foi recusado pelo órgão regulador, que em correspondência enviada à noite ao presidente da Varig, Marcelo Bottini, exigiu uma nova malha, dando prioridade aos trechos para os quais a empresa vendeu bilhetes e deixou os passageiros no chão.
No entanto, o órgão regulador não deu garantia de endosso dos bilhetes comprados na Varig, especialmente os referentes a vôos cujo cancelamento já tenha sido avisado ao usuário.
Só no Aeroporto Internacional Tom Jobim a Varig suspendeu ontem 42 vôos domésticos e 25 internacionais. Enquanto isso, segundo a Infraero, no Aeroporto Santos Dumont a Varig fez 36 vôos da ponte aérea Rio-São Paulo. Até o meio da tarde, constava nos terminais da Varig no Tom Jobim apenas a confirmação de dois vôos internacionais — para Frankfurt e Miami — com partida à noite.
Caso a ordem de reorganização não seja cumprida, a Anac avisou na carta que decidirá, unilateralmente, as rotas que a Varig será obrigada a fazer. Para preservar os interesses dos usuários, a agência poderá distribuir as rotas para as concorrentes, disse uma fonte da Anac.
As prioridades elaboradas pela Anac são os seguintes destinos: Guarulhos, Rio de Janeiro/Tom Jobim, Recife, Salvador, São Paulo/Congonhas, Brasília, Porto Alegre, Fortaleza, Manaus, Curitiba, Belo Horizonte/Confins, Florianópolis, Goiânia, Belém, Foz do Iguaçu e Vitória. No exterior, o maior número de passageiros a serem transportados está em Frankfurt, Miami, Nova York, Londres, Buenos Aires, Madri, Paris, Caracas, Milão, Cidade do México, Munique, Lima e Bogotá.
De acordo com a Anac, a proposta da Varig de concentrar operações na ponte aérea não atende às necessidades da aviação, uma vez que se trata do trecho com a maior oferta.
A Anac solicitou que a Infraero transfira para as concorrentes nacionais as áreas de check-in da Varig que estão ociosas durante o período de emergência, que vai até o dia 28, e enquanto a VarigLog não assumir toda a sua malha doméstica, o que pode demorar até 60 dias. A medida visa a reduzir as filas nos aeroportos.
Embora tenha pedido que as concorrentes ofereçam vôos extras, o órgão regulador deixou indefinida a situação do usuário que ainda não iniciou a viagem. De acordo com a Anac, eles serão avisados pela Varig por telefone sobre o cancelamento do vôo e deverão aguardar para ser embarcados num avião da própria empresa. Caso a rota tenha sido cancelada definitivamente, será preciso aguardar orientação da Anac.
Mesmo quem já estiver em trânsito só fará a viagem por outra empresa se houver assento disponível, diz a nota da Anac. A TAM resiste a endossar bilhetes porque a Varig deve a ela US$ 1,5 milhão em vôos internacionais.
A pedido da Anac, a Gol passará a oferecer a partir da noite de hoje o destino Fortaleza/Rio. Na sexta-feira, entra em operação o trecho Salvador/Guarulhos/Porto Alegre. Já a TAM fará rotas noturnas, mas somente hoje e amanhã, nos destinos Congonhas/Fortaleza e Guarulhos/Salvador. A Anac recebeu denúncias de que a Varig vendeu passagens para destinos cancelados e deverá assinar hoje nota com o Procon.
Um grupo de 21 adolescentes venezuelanos, que pegaria o vôo Rio-Manaus-Caracas ontem, tentava, desde sábado, embarcar em algum avião com destino à capital do Amazonas. A coordenadora do grupo, a professora Ana Maria Torrealba, explicou que eles participaram de um torneio de futebol em Ubatuba (SP) e vieram para o Rio de ônibus. Por causa da notícia do cancelamento de vôos, o grupo foi para o aeroporto mais cedo tentar viajar.
A Associação Nacional dos Consumidores de Crédito (Andec), de Belo Horizonte, entrou com uma ação civil coletiva, no Tribunal Regional Federal, contra a Varig, a VarigLog e a Anac. O objetivo é ressarcir consumidores por danos morais e materiais.
Segundo trabalhadores, a Varig ainda não disse quantos serão aproveitados, mas informou que as rescisões dos dez mil funcionários estão estimadas em R$ 170 milhões e que as dívidas seriam pagas com créditos de ICMS. A VarigLog fez ontem o depósito exigido de US$ 75 milhões na nova empresa.
Geralda Doca, Ramona Ordoñez e Erica Ribeiro / O Globo
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