No mais longo depoimento já prestado por um réu na Justiça no país, o empresário Luiz Antônio Trevisan Vedoin denunciou até a noite de ontem o envolvimento de pelo menos 80 deputados com a máfia dos sanguessugas, organização acusada de vender ambulâncias superfaturadas em 19 estados. Os detalhes das acusações e as provas apresentadas pelo empresário, apontado como um dos chefes da máfia, deixaram integrantes da CPI dos Sanguessugas estarrecidos. O depoimento de Vedoin ao juiz Jeferson Schneider, da 2 Vara Federal de Mato Grosso, começou segunda-feira da semana passada e só deve terminar amanhã.
— O que ele (Vedoin) está dizendo é aterrador. É um esquema criminoso que envolve 19 estados e de 60 a 80 parlamentares — disse o vice-presidente da CPI, deputado Raul Jungmann.
Vedoin negociou acordo de delação premiada
Segundo o deputado, Vedoin negociou um acordo de delação premiada e está contando em detalhes todas as negociatas que teria feito com a participação de parlamentares. Vedoin está fazendo um relato minucioso de boa parte das licitações vencidas pela Planam e outras 19 empresas do grupo para vender ambulâncias para prefeituras de 19 estados. Com calma e naturalidade, está citando nomes de prefeitos, assessores e parlamentares com quem negociou nos últimos cincos anos. Entre 2001 e 2005, a Planam teria vendido mil ambulâncias a prefeituras em negócios feitos com emendas de parlamentares.
— O depoimento dele é contundente. As revelações estão sendo amparadas por provas documentais. Tudo isso vai facilitar o trabalho da CPI — disse o presidente da CPI, deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ).
Biscaia, Jugmann e mais quatro integrantes da CPI viajaram a Cuiabá especialmente para interrogar o empresário. Mas, como o depoimento dele à Justiça só deve terminar amanhã, os parlamentares tiveram que mudar de plano. Numa reunião com o juiz, no início da tarde, ficou acertado que a CPI dispensaria o depoimento de Vedoin. Mas, para não atrasar o cronograma das investigações, o juiz deverá ceder uma cópia integral do interrogatório à comissão ainda esta semana. Vedoin está depondo das 9h até o início da madrugada, desde segunda-feira passada. O interrogatório não foi suspenso nem no fim de semana.
Para Biscaia e para o relator da CPI, senador Amir Lando (PMDB-RO), as provas apresentadas por Vedoin já são suficientes para sustentar boa parte do relatório final da CPI.
Ontem, ao longo da tarde, a CPI interrogou a ex-assessora especial do Ministério da Saúde Maria da Penha Lino, considerada uma das peças-chave do esquema de Darci e Luiz Trevisan Vedoin. Acompanhada da advogada Sandra Cristina Alves, Maria da Penha se recusou a confirmar as denúncias que fizera sobre a máfia dos sanguessugas na Polícia Federal, no Ministério Público e na Justiça. Dizendo-se pouco importante na estrutura da venda das ambulâncias, disse que não sabia nem mesmo por que estava ali, prestando depoimento.
— Eu nunca participei de fraudes em licitações — disse.
A CPI já notificou os 15 parlamentares que estão respondendo a inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por suposto envolvimento com a máfia dos sanguessugas. Entre os parlamentares que receberam o aviso estão os deputados Tetê Bezerra (PMDB-MT), Lino Rossi (PP-MT), Wanderval Santos (PL-SP), José Divino (PMDB-RJ), Nilton Capixaba (PTB-RO) e João Caldas (PL-AL). Os deputados terão até sexta-feira para apresentar defesa por escrito à CPI.
Jailton de Carvalho / O Globo
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