Polícia Federal investiga integrante da Assembléia do Rio, acusado de mandar matar adversários e de comandar esquema que fraudava combustíveis no estado. Procurado, ele não quis se manifestar
Rio — As investigações sobre a máfia dos combustíveis, na avaliação do serviço de inteligência da Polícia Federal, podem ter revelado uma versão carioca de Hildebrando Pascoal, o deputado cassado do Acre que mutilava seus inimigos com motosserra.
Citado em várias escutas telefônicas gravadas pela PF, o deputado estadual Domingos Brazão (PMDB-RJ) é investigado pela Polícia Federal sob a acusação de pertencer o esquema que fraudava combustíveis e de comandar uma quadrilha de roubo de cargas. Relatos e depoimentos sigilosos, obtidos pela PF, mostram que o grupo de Brazão é acusado de matar seus inimigos com requintes de crueldade.
Em 2003 a prisão do empresário Renan Macedo Leite, durante a Operação Poeira no Asfalto, desencadeada pela PF, colocou o deputado estadual no foco das investigações. Condenado a cinco anos de prisão pela Justiça Federal, sob a acusação de pertencer à máfia dos combustíveis, Renan estava lotado como subchefe de gabinete do deputado na Assembléia Legislativa(Alerj).
As fitas revelaram que Renan, dono de uma rede de postos, comandava do gabinete do deputado o comércio de combustível adulterado, que trafegava livremente pelas rodovias do Rio com “notas frias”. Nos diálogos, Renan descreve a participação do deputado nos negócios. “Estou regularizando a contabilidade dos postos. Estou botando 100% em nome de Brazão”, afirma Renan.
Carros roubados
Segundo as investigações da polícia, Renan não é único acusado de participar da quadrilha lotado no gabinete do deputado. Apontado como o responsável pelo leilão de carros roubados pela quadrilha, Walter Aurélio Alcantelado, “o Waltinho”, além de servidor na Câmara, é diretor da Fundação Serviço Social Domingos Brazão — um grande hospital sustentado pelo deputado para atender a seus eleitores carentes no Bairro de Jacarepaguá (RJ). As ligações comerciais entre Brazão e Waltinho estão documentadas.
Segundo a Junta Comercial do Rio de Janeiro, ambos são sócios no Auto Posto Rondônia e Auto Posto Giromanilha. Renan substituiu ainda o irmão do deputado, Manoel Inácio Brazão, no quadro societário do Ferro Velho Nova Entrada — empresa investigada sob a acusação de vender peças de automóveis roubados. No foco das investigações, está também o servidor do deputado Zélio Ricardo Perdomo Portugual, conhecido como “ Portugal”, que seria responsável pela negociação de remédios roubados.
Ex-funcionário do gabinete do Brazão, João Bosco Barra, o João do Aterro, é acusado nas investigações de vender tratores roubados e de transportar combustível adulterado. As relações comerciais do servidor com o deputado também estão comprovadas. De acordo com os papéis da Junta Comercial, João do Aterro é sócio na BR Car Veículos com os irmãos do deputado, Francisco Inácio Brazão e Manoel Inácio Brazão. É sócio também do delegado federal aposentado Luiz Carlos da Silva, o “Luizinho”, e da irmã do deputado, Maria Lúcia Brazão, na empresa Saracutaco Peças e Veículos Ltda..
Testa-de-ferro
As investigações mostram também as ligações do deputado no ramo de táxis. Ex-funcionário de Brazão na Assembléia, o policial Eduardo Atab, o Dudu, é apontado como testa-de-ferro de Brazão nas empresas Táxi Novo Rio Ltda., Revendora Capelinha Rio Ltda., Atabs Importação e Expotação Ltda. e Atabs.
A diversidade de negócios de Brazão e o seu rápido enriquecimento acionaram o radar da Receita Federal, que resolveu fazer uma devassa nas empresas do deputado. As investigações da PF e do fisco não intimidaram Brazão, que declarou que, caso tenha um novo mandato, tentará se eleger presidente da Assembléia Legislativa do Rio.
“O sonho dele é se tornar um José Carlos Gratz, que comandava o crime no Espírito Santo como presidente da Assembléia Legislativa do estado”, afirma a deputada estadual Cidinha Campos (PDT-RJ).
A deputada diz que começou a investigar Brazão após ser procurada pelo empresário Nélio Ferreira Nobre, ladrão confesso de cargas do caminhão. “Eu comecei com o Brazão, roubando carro de dia e vendendo à noite”, afirmou Nobre à deputada. Ele acabou sendo assassinado.
Procurado em seu gabinete pelo Correio, Brazão não quis se pronunciar sobre as denúncias. “Ele não vai falar, porque a voz dele não está em nenhuma gravação”, disse a irmã de Brazão, Vela Lúcia. Um servidor do gabinete, que se identificou como o policial Dudu, também disse que o parlamentar não tem nada para falar sobre o assunto. “Estamos trabalhando para o deputado ser o mais votado nas eleições e para presidir a Assembléia”, disse.
O sonho dele (Brazão) é se tornar um José Carlos Gratz, que comandava o crime no Espírito Santo como presidente da Assembléia Legislativa do estado
Cidinha Campos (PDT-RJ), deputada estadual
–>Parceria parlamentar –> Rio — Lotado no gabinete do deputado Domingos Brazão, o empresário Renan Macedo Leite diz nas escutas telefônicas que estava infiltrado na Assembléia Legislativa para atender aos interesses da máfia dos combustíveis. “Como subchefe de gabinete estou constantemente no plenário defendendo os interesses de parceiros. Deputados são somente para fazer o que eu quero e colocá-los nos esquemas”, disse.
Entre os deputados citados como próximos do grupo, Renan cita os deputados estaduais Jorge Teodoro (PFL), conhecido como Dica, e Alexandre Calazans (PMN), cassado e envolvido no grampo do empresário do ramo de jogos Carlinhos Cachoeira, que provocou também a cassação do deputado federal André Luiz (sem-partido). Segundo Cachoeira, o deputado teria tentado extorquir R$ 4 milhões para excluir o empresário do relatório final da CPI da Loterj (Loteria do estado do Rio), criada pela Assembléia Legislativa.
Renan também dizia nas gravações que ele e o deputado Brazão eram próximos de André Luiz. “O André é meu irmão, estou financiando a candidatura do filho dele, Andrezinho para vereador”, afirma. Cassado, André Luiz trabalha atualmente no gabinete do vereador Chiquinho Brazão, irmão de Domingos Brazão. Segundo Renan, André Luiz também atuava para atender aos interesses de Brazão no Congresso.
Amaury Ribeiro Jr da equipe do Correio
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