Procuradoria da República no Mato Grosso acusa funcionários do Congresso, que seriam ligados a 18 deputados e a um senador, de envolvimento com a máfia que fraudava a compra de ambulâncias
As apurações do Ministério Público Federal e da Polícia Federal revelaram, até o momento, a participação de pelo menos 28 assessores parlamentares com os sanguessugas. Eles tiveram os nomes citados em relatórios da investigação e aparecem nesses documentos vinculados a 18 deputados e a um senador (veja quadro ao lado). Todos foram denunciados à Justiça pelos procuradores da República no Mato Grosso para serem processados criminalmente, mas o número de servidores aumentará nos próximos dias, como deixaram claro os investigadores, o que envolverá outros congressistas no escândalo.
Os procuradores e os policiais perseguem pista flagrada às 11h10 de 16 de dezembro do ano passado, uma sexta-feira. O empresário Luiz Antônio Trevisan Vedoin, um dos donos da empresa Planam e apontado como um dos líderes da quadrilha, ligou para o assessor Marco Antônio Lopes, do gabinete da deputada Elaine Costa (PTB-RJ). Eles conversaram sobre a venda de ambulâncias para o município de São Gonçalo, no Rio de Janeiro. Luiz Antônio reclamou da falta de cuidado do assessor para dissimular as supostas irregularidades no comércio dos veículos. “Mais uma coisa: a gente trabalha com mais sess… mais de sessenta aí, cê (sic) sabe disso”, ameaçou.
Esse seria um dos indícios de que os sanguessugas atuariam com mais de 60 contatos dentro do Congresso Nacional. E as suspeitas recaem não só sobre assessores, mas também sobre os próprios parlamentares, como revelaram as investigações realizadas nos últimos dois anos para identificar e punir os responsáveis pelas fraudes na compra de ambulâncias a partir de emendas parlamentares ao Orçamento.
Os procuradores da República no Mato Grosso Márcio Lúcio Avelar, Paulo Gomes Ferreira Filho e Marcelo Borges de Mattos Medina, autores do pedido de abertura de ação penal à Justiça contra as 81 pessoas acusadas de participar do esquema, analisam documentos apreendidos durante a Operação Sanguessuga, no início do mês passado. Nos papéis, que incluem a contabilidade da Planam, aparecem muitos nomes de assessores parlamentares, o que poderá confirmar ou não o envolvimento de seus patrões.
Explicações
Procurados pela reportagem, o deputado Pastor Pedro Ribeiro (PMDB-CE), por meio de sua assessoria, informou que Adarildes Costa, uma das denunciadas, foi exonerada logo depois da Operação Sanguessuga da PF. No gabinete de Vanderlei Assis (PP-SP), informaram que Ana Alberga não se encontrava e que Evandro estaria num telefonema, mas nem ele ou o deputado retornaram a chamada. A assessoria da Laura Carneiro (PFL-RJ) informou que a parlamentar conhece Carlos Haasi, mas negou que ele tenha trabalhado em seu gabinete. Mesma situação informou o gabinete de Jorge Pinheiro (PL-DF). O deputado brasiliense conheceria Washington da Costa e Silva, denunciado pelo MP, por trabalhar com um parlamentar amigo, mas nunca teria pertencido à sua equipe.
A assessoria de Carlos Batata (PFL-PE) foi procurada, mas não retornou com resposta sobre o suposto envolvimento do parlamentar com Otacílio Dutra Maia, também acusado pelo Ministério Público de envolvimento com os sanguessugas. O gabinete de Elaine Costa (PTB-RJ), cujos assessores Marco Antonio Lopes e Nívea Martins de Oliveira também foram presos na operação da PF, também foi contatado, mas não houve retorno. Os demais deputados que aparecem na lista ao lado não foram localizados pelo Correio, mas alguns deles já haviam se manifestado anteriormente sobre o assunto. Caso de Edna Macedo (PTB-SP), cujo filho Octávio José Bezerra Fernandes está entre os que terão de se explicar à Justiça. Há alguns dias, Edna chorou na tribuna da Câmara ao discursar e dizer que o rapaz foi preso injustamente e que não houve “sequer uma averiguação”. O senador Ney Suassuna (PMDB-PB) exonerou, mês passado, dois assessores que agora aparecem na denúncia e nega envolvimento.
–>Congresso abre CPI Líderes do Senado e da Câmara reunidos ontem decidiram criar uma CPI mista para investigar a máfia dos sanguessugas. Para que a comissão saia do papel, é necessária a leitura do requerimento de instauração pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o que deverá ocorrer na próxima semana, prazo em que a Mesa Diretora, por determinação de Renan, fará a checagem das assinaturas que respaldam a instalação da CPI. Após isso, os líderes dos partidos deverão fazer a indicação dos integrantes da comissão. Os parlamentares terão 30 dias para a conclusão dos trabalhos, prazo que poderá ser prorrogado. Dos partidos que estiveram presentes, apenas o PP se mostrou contrário à investigação do assunto pelo Congresso Nacional. Sessenta e dois deputados e um senador foram listados pela Justiça Federal por indícios de participação no esquema. (MR)
Marcelo Rocha Da equipe do Correio
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