O delegado Roberto Troncon Filho mal teve tempo para se acomodar na cadeira de superintendente do estado de São Paulo e já tem pela frente enorme batata quente para descascar. Para desafogar o setor de passaporte, alvo recorrente de críticas da imprensa, a SR/SP adotou estratégia controversa: recrutar um servidor administrativo e dois funcionários terceirizados de todos os demais setores para o passaporte, o que obviamente tem prejudicado o andamento dos trabalhos nos setores atingidos.
A decisão de recrutar os servidores e terceirizados foi tomada no início de maio, três meses após o Jornal Nacional dar início a série de reportagens criticando a demora para conseguir agendamento para retirada de passaporte, o que leva a crer que a Superintendência agiu de forma reativa, visando oferecer uma resposta às críticas veiculadas pela Globo. Com a medida, cada servidor passa a trabalhar meio período em seu setor de origem e meio período no setor de passaporte.
O problema é que as consequências da medida parecem não terem sido avaliadas pelos gestores do órgão. Segundo o representante estadual do SINPECPF em São Paulo, a maioria dos setores da Superintendência nunca esteve tão sobrecarregada como agora, em função da perda de servidores no decorrer dos anos, em virtude da falta de concurso público e do atual cenário de remanejamento. “O quadro de servidores administrativos em São Paulo é absurdamente exíguo. São mais de 480 funcionários terceirizados na SR/SP e unidades descentralizadas, contratados como recepcionistas, exercendo irregularmente funções administrativas, substituindo na prática os administrativos que já se foram e continuam saindo do DPF”, denuncia.
Wesley também revela que o atual remanejamento está gerando grandes problemas para alguns setores. “Não temos mais como atender a demanda atual, estamos sobrecarregados, não temos gente suficiente”, avalia. Na opinião dele, a Superintendência também precisa investir mais na qualificação profissional dos servidores administrativos. “Somente assim poderemos atender as demandas de outros setores altamente técnicos”.
Os servidores também se queixam da forma como o recrutamento para o passaporte foi efetivado. Para que os servidores deslocados possam atuar na emissão de passaportes, a Superintendência decidiu estender o horário de atendimento para o período da 17h00 até as 21h00. “Não houve nenhum tipo de consulta ao servidor. Impuseram um horário sem avaliar compromissos pessoais ou se faz algum curso ou faculdade no período noturno”, protestam.
Na avaliação do SINPECPF, a demora do governo em promover a reestruturação da carreira administrativa, possibilitando a realização de novo concurso para a área, está alimentando verdadeira bomba relógio dentro da corporação. “A Polícia Federal está próxima de um colapso. As atividades de suporte estão ficando comprometidas pela falta de servidores, e logo não haverá mais policias para serem desviados para estas funções – ganhando em média quatro vezes mais que um servidor administrativo para isso!”, critica a presidente Leilane Ribeiro de Oliveira.
O SINPECPF informa que o processo de recrutamento será submetido à análise dos advogados do sindicato, que irão apurar se há alguma irregularidade no mesmo. O sindicato também pretende debater a situação em São Paulo com o diretor-geral da PF, Leandro Daiello Coimbra, cobrando medidas que solucionem a carência de servidores existente no órgão.
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